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Kalahari, natureza e cultura: cabelos e fases da mulher himba

Por Anderson Tibau

Em 2017 realizei a pesquisa fotoetnográfica Imagens da África – aspectos da natureza e da cultura na Namíbia, sob orientação da antropóloga Tania Dauster. Fui até o Kalahari, um deserto localizado na África Austral, com cerca de 930.000 km² abrangendo partes de Angola, do Botsuana, Namíbia e África do Sul, com o objetivo de fotografar a relação entre natureza e cultura em um dos desertos mais antigos do mundo. O resultado é um conjunto de fotografias sobre a vida em um dos lugares mais inóspitos da Terra. Neste ensaio reúno algumas imagens que permitem uma leitura das relações entre natureza e cultura, em especial sobre sociabilidade, cabelos e fases da vida da mulher himba.

Antes e depois do trabalho de campo a leitura de A selva dos símbolos, de Victor Turner, me ajudava a compreender o que era estar na África – Foto: Theo Calvano Gonçalves, 2017
Antes e depois do trabalho de campo a leitura de A selva dos símbolos, de Victor Turner, me ajudava a compreender o que era estar na África – Foto: Theo Calvano Gonçalves, 2017

[…] O povo himba é uma etnia de origem bantu, atualmente, com população estimada entre 20.000 e 50.000 pessoas se locomovendo entre Angola e Namíbia. Tradicionalmente é identificada como matriarcado pastoril, seminômade e poligâmico. Ao longo do tempo vêm mantendo algumas tradições ancestrais, ainda que se percebam, pelo contato cada vez maior com os modos de vida ocidentais, transformações em relação à sua representação, como é o caso da poligamia, por exemplo, se atualizando como monogamia. Estou observando um grupo que vive em uma espécie de vila/orfanato na localidade de Kamanjab. Vejo que aqui há muitas mulheres e crianças em relação à presença de uns poucos homens. Esses homens são os responsáveis por fazer o contato com “os de fora”. Kamanjab, Namíbia, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017.

Os poucos homens na aldeia são os responsáveis pelo contato com "os de fora" – Foto: Anderson Tibau, 2017
Os poucos homens na aldeia são os responsáveis pelo contato com “os de fora” – Foto: Anderson Tibau, 2017

[…] Na cultura himba ancestral as fases da vida, gêneros, papéis sociais e toda sociabilidade do grupo, são marcados pelas formas de usar os cabelos, interpretadas, no contexto, como ações simbólicas que inventam identidades. Os himba, meninos e meninas, mulheres e homens, da infância à vida adulta, são identificados por tais formas e usos.

Os cabelos ajudam a marcar as fases da vida, os papéis sociais e as diferenças de gênero – Foto: Anderson Tibau, 2017
Os cabelos ajudam a marcar as fases da vida, os papéis sociais e as diferenças de gênero – Foto: Anderson Tibau, 2017

Em relação às mulheres, a tradição determina que, desde a infância, sejam cultivadas duas tranças que vão se avolumando e se voltando para frente do rosto. O tamanho e o formato das tranças definem a infância da menina himba.

Tranças da menina himba - Foto: Anderson Tibau, 2017
Tranças da menina himba – Foto: Anderson Tibau, 2017

Na puberdade as tranças vão tomando volume e em breve serão jogadas para trás, se transformando numa espécie de rastafári.

As tranças da puberdade - Foto: Anderson Tibau, 2017
As tranças da puberdade – Foto: Anderson Tibau, 2017

Conforme as tranças vão crescendo e engrossando, começam a ser atadas e besuntadas de otjize, da base do cabelo até uns quatro dedos de distância das pontas. Entre o fim da atadura e a ponta o cabelo se abre desfiado. O otjize é um creme feito com pó de ocre, seivas e gordura animal. Essa etapa significa que a mulher já está pronta para casar e, por isso, pode usar um erembe no topo da cabeça. O erembe, uma coroa feita de couro de vaca, ou cabra é signo de status.

Cabelo de uma mulher himba adulta e casada - Foto: Anderson Tibau, 2017
Cabelo de uma mulher himba adulta e casada – Foto: Anderson Tibau, 2017

As mulheres adultas passarão o restante da vida com o erembe no topo da cabeça. O acessório e as tranças são parte da identidade visual do matriarcado himba.

O erembe é uma coroa feita de couro de vaca ou de cabra - Foto: Anderson Tibau, 2017
O erembe é uma coroa feita de couro de vaca ou de cabra – Foto: Anderson Tibau, 2017

21 replies on “Kalahari, natureza e cultura: cabelos e fases da mulher himba”

A pesquisa e as fotos, são muito interessantes!
Me chocou um pouco, mas eu achei legal, vemos uma cultura mais “”regrada”” em relação ao cabelo e tal, diferente do que estamos acostumados a ver. (bom, tirando que já ouvi e vi no meu ensino fundamental uma menina que não cortava/ não podia cortar o cabelo, por conta do costume de sua religião), uma tradição bacana, e bonita.

O texto traz uma reflexão sobre um olhar diferente sobre a cultura, enquanto a cultura para muitos e ir a belos museus, apreciar obras de arte viver em teatros e no meio de pessoas cultas, no texto sobre o povo himba vemos clareamento a cultura num povo com costumes e tradições que vai passando da infância a fase adulta com as mulheres himba, o cabelo é uma marcar delas mostrando as fases da vida, com isso podemos também concluir que esse os himbas expressa sua cultura.

O interessante da cultura do povo Himba é que as mulheres que mandam em tudo e que elas são donas de tudo nas aldeias. É também sobre os penteados que antes de chegar a puberdade ,as meninas usam apenas 2 tranças no cabelo e elas esconde o rosto antes de se casar ,depois que se cansam fazem mais tranças e colocam uma cora .Os homens usam uma trança no centro da cabeça e depois do casamento eles usas um turbante e só tiram quando morrem alguém na aldeia e cortam o cabelo …

O autor oferece uma visão fascinante sobre sua pesquisa fotoetnográfica realizada na Namíbia, no deserto do Kalahari, em 2017. Ele explora a complexa relação entre natureza e cultura, destacando o povo himba, como foco principal. A maneira como as tradições himba, especialmente a forma como usam os cabelos, moldam suas identidades e marcam diferentes fases da vida é um elemento cativante do estudo.
A análise das mudanças nas tradições himba ao longo do tempo, influenciadas pelo contato com a cultura ocidental, como a transição da poligamia para a monogamia, adiciona uma dimensão importante à discussão. O autor ilustra essas complexas dinâmicas culturais por meio de fotografias, proporcionando uma compreensão visual das relações entre natureza e cultura, bem como dos rituais de identidade, como o uso de tranças e coroas de couro, que desempenham um papel crucial na vida dos himba. No geral, o texto oferece uma perspectiva enriquecedora sobre a interconexão entre cultura e meio ambiente na Namíbia.

A África sempre foi um lugar que tenho um desejo enorme de conhecer, principalmente pela variedade de cultura, pela beleza e valorização das pequenas coisas, ler essa pesquisa com comentários e fotos, me despertou a curiosidade de pesquisar mais sobre os costumes. A maneira como eles fazem uma coisa que pra nós brasileiros é apenas estética, o cabelo se tornar sinalizador de status e idade. Muito interessante a leitura e as fotos deram uma profundidade que só as palavras não conseguiriam.

Toda a cultura é muito diferente da nossa, mais o que me chamou atenção foi em relação aos cabelos das mulheres do povo Himba que vai modificando penteado de acordo com seu período de vida,da puberdade até fase adulta.tudo é muito diferente da nossa cultura, não consegui vê nada parecido.entao podemos entender que cultura vai muito mais que saber, é respeitar e passar de geração e m geração.

a cultura desse texto e bem diferente da nossa, na cultura himba ancestral as pessoas usam as tranças para definirem, as fases da vida, gêneros, papeis sociais e toda sociabilidade do grupo, são marcados pelo tamanho e grossura da trança. A nossa cultura e bem diferente não precisamos fazemos tranças ou outro qualquer tipo de penteado para definimos quem somos, a nossa cultura define em uma palavra usada para classificar as pessoas e as vezes grupos sociais, a nossa cultura também e baseada conforme o jeito da pessoa cada um tem uma cultura diferente.

Impressionante como cada cultura se difere, mas querendo ou não vai para o mesmo objetivo, como discutido em sala de aula, a identificação. É isso que gera a cultura e a transforma em um padrão em certa comunidade.

Mais especificamente me instiga saber ainda mais sobre a cultura de cada povo e como signos mudam de significado dependendo de quem o vê, cultura é isso: identificação, pluralidade e tradição.

Achei incrível também como as tranças comunicam, a forma de comunicação dos povos também é cultura, assim como os escravizados utilizavam do cabelo das mulheres para traçar mapas e não se perderem dos quilombos!

É muito interessante conhecer uma cultura nova e ver o quanto ela é diferente da nossa. A forma como o cabelo comunica e marca as diferentes fases da vida, os papéis sociais etc, tanto do homem quanto da mulher. Me chamou a atenção como o cabelo marca a vida da mulher himba desde a infância até a vida adulta.

A pesquisa apresenta as fases do cabelo da mulher, desde sua infância até a vida adulta e que as tranças tem uma representatividade muito grande, pois são elas que marcam as fases da vida da mulher. A pesquisa me traz reflexões e questões pouco falado, sobre apropriação cultural das tranças. Atualmente o uso das tranças é algo “da moda” e que todos podem usar, sendo que as tranças tem toda uma história por trás e uma representatividade muito grande, não somente “coisa da moda”.

Esse texto nos mostra que em cada lugar existe uma cultura única e diferente. A forma como eles expressam a passagem da infância da mulher himba, para a vida adulta através das tranças, foi algo que prendeu a minha atenção, eu achei muito interessante pois a cultura é também a maneira como as pessoas vivem e como agem, e essa maneira de expressão é única de seu povo, o cabelo das mulheres Himba reflete o seu crescimento e marca histórias.

Achei muito interessante esta cultura, principalmente a parte das tranças nos cabelos, e oque elas representam em sua cultura, oque é muito diferente da cultura do nosso país.

O texto descreve uma pesquisa fotoetnográfica realizada em 2017 na Namíbia, no deserto do Kalahari, com o objetivo de explorar a relação entre natureza e cultura em uma das regiões mais antigas do mundo. O autor destaca a importância de fotografias como meio de entender essa conexão.

Focalizando a vida do povo himba, uma etnia de origem bantu que habita a região, o autor explora como elementos culturais, como a forma de usar os cabelos, desempenham papéis significativos na identidade e nas fases da vida dessa comunidade. Ele menciona que as fases da vida, os gêneros e os papéis sociais são simbolizados pelos estilos de cabelo, desde a infância até a vida adulta, ilustrando como essas ações simbólicas criam identidades dentro da cultura himba.

Além disso, o autor destaca a transformação das tradições himba ao longo do tempo, especialmente no contexto do contato crescente com influências ocidentais, como a mudança da poligamia para a monogamia. A descrição das transformações culturais e das práticas tradicionais torna o texto informativo e interessante para quem deseja compreender a dinâmica cultural desse grupo étnico.

Entendi pelos textos que li, que cultura é respeito por uma história e quando essas mulheres mantém está tradição dás traças nos faz vê o quanto é importante manter para que o tempo e novos hábitos, não venham apagar está cultura do povo Himba.me fez pensar no povo indígena e quilombola que também mantém sua cultura.luta para que a cultura não venha se perde .

Legal ver os diferentes tipos de cultura e sua diversidade, a maneira em que as mulheres Himba expressam e diferenciam as idades é bem interessante. Diferente de nossa cultura, onde os penteados são diversos desde pequena até a idade adulta.

Para mim, cultura é uma junção de crenças e conhecimentos. A cultura nos traz diversos aprendizados. Através dela aprendemos as brincadeiras, as histórias, danças, festas, músicas e costumes. Muitas dessas coisas, aprendemos em determinadas fases das nossas vidas. Os Himba, meninos e meninas, mulheres e homens são definidos por fases (criança, adolescente, jovem e adulta) conforme a forma e uso que seus cabelos estiverem. As mulheres Himba, são reconhecidas quando estão prontas para casar ou quando já são casadas, através da forma que estiverem usando seus cabelos. Já nós somos definidos por características,e objetos, como: chupeta (criança), rebeldia (adolescente), carteira de habilitação (jovem), aliança (adulto). Isso é uma cultura que vem passando de geração a geração.

Entendi pelos textos que li, que cultura é respeito por uma história e quando essas mulheres mantém está tradição dás traças nos faz vê o quanto é importante manter para que o tempo e novos hábitos, não venham apagar está cultura do povo Himba.me fez pensar no povo indígena e quilombola que também mantém sua cultura.

Cultura bem diferente do que estamos acostumados a ver nas ruas e nos programas televisivos, mas ainda assim é incrível.
Acho interessante a forma como a cultura construiu características para identificação de subgrupos dentro do povo, sejam esses grupos definidos pela idade, gênero ou status.

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